28 de dezembro de 2011

da história 1

Wedding Ring Quilt
A estrutura do patchwork altera a linealidade e permite diferentes leituras

se a História é construída partindo de Grandes Factos, okupar a história com quotidianas anedotas.
se a História é construída de histórias, okupar a história com estórias.
se a História é construída em prosa acadêmica, okupar a história com versos.
se a História é construída no centro, okupar a história desde as margens.
se a História é construída desde a certeza, okupar a história com dúvidas.
se a História é construída linealmente, okupar a história com vazios, nós e volumes.
se a História é construída com fontes documentais, okupar a história com tradiçom oral.

se a História é construída com homens, encher a história de mulheres.


26 de dezembro de 2011

antárctica


construía eu este poemário e uma mulher chegava ao pólo sur. e essa mulher era de vigo e levava por nome chus lago. numa das entrevistas prévias à viagem afirmava que o medo mais grande que tinha no início da aventura era á loucura polar: a perder o sentido da realidade entre tanta brancura e o frio tanto.

seguim a sua expediçom dia a dia porque apostara por ela. era como seguir, com um século de atrasso, o itinerário das grandes pioneiras. e porque ela chegou, sentim que chegáramos todas.


a foto é da revista GEO; o vídeo de CAIXANOVATV.

17 de dezembro de 2011

dos contos populares

Forgotten_Fairytales_by_zemotion
  os contos de fadas e os mitos som uns iniciadores; som os sábios que aprendem a quem vem depois.
clarissinha: mulheres... pág. 428

isso há de ser o livro: um conto de fadas para aquelas que venham. o conto que a mim ninguém me deu a ler, ninguém me leu, ninguém me contou.


a foto tirei-na de aqui. é de zemotion e leva por título forgotten fairytales.

14 de dezembro de 2011

campo de refugiadas

o poema é tal qual o quadrinho inferior esquerdo...
 poema nascido desta página do livro palestina, de joe sacco.

e que comparte filosofia e ideologia com esta maravilha de rafeef ziadah, رفيف زيادة:

13 de dezembro de 2011

supergirl

fermosíssima capa-quadrinhos desenhada por enrique conde para a enormic banda

um poema de encargo para uma revista de banda desenhada: a enormic banda que edita a coordenadora de equipos de noramlizaçom linguística do salnés.
para escrever este, e os outros que componhem a introduçom ao número da revista, lim um manual com o que aprendim uma cheia: este.

10 de dezembro de 2011

lavandeiras da noite

um romance tradicional, recolhido ás portas da casa, popularizado por fuxan os ventos:



um disco: la sal de la vida. uma versom fermosíssima, da mão de uxía, maría salgado e cuchús pimentel. e uma explicaçom da letra que me abriu os olhos:
recolhida em 1904, responde à tradiçom galaico-portuguesa das lavandeiras nocturnas, almas em pena, eternamente condenadas a lavar os ensanguentados panos da criança cuja morte provocavam mediante abortivos ou esganando-a no berço
a literatura de tradiçom oral dando voz àquilo que a norma social acala, e pondo em relaçom as mulheres do aquém com as do além-mar... por isso retomei o romance para tratar o tema do aborto.

e o tema da lavandeira retomado por lenine:

9 de dezembro de 2011

hipatia

rafael: a escola de atenas. no grupo da esquerda, abaixo, em pé e vestida de branco, está a única mulher: hypatia.

este poema nasceu do trabalho associativo. como integrante da sociedade astronômica estradense, preparei uma série de artigos sobre mulheres e astronomia. pesquisando para a sua redaçom, dei com a figura de hipatia, da que nada sabia, apesar de estudar no licéu obras nas que aparece representada, como a de acima. 

e fiquei impactada.

como a sade nom funciona na actualidade e os números do seu boletim sargas nom está acessíveis em rede, vam aqui dous dos três artigos que chegárom a sair:



de lerdes os textos, notaredes que há bem de tempos que me interessa o rol das mulheres na história.


a sereia


nascida deste tema de chouteira, que bebe da tradiçom popular, que bebe dalguma voz anônima, que bebe...

como os chouteira nom se deixam ver pola rede, vai outra sereia, marisa monte, a cantar às sereias da tradiçom brasileira: 

a elena buscalavida

lavadoiro do rio do com, em vila-garcia, onde tinha o seu lugar elena buscalavida



quando publiquei o poemário [de]construçom, dediquei-lho com um verso às casas das que provenho, e que sempre encontram um momento na quotidianeidade da vida familiar para agromar:

venho das eiras de portaris dos arines

na casa dos meus avós de cea sempre corremos o risco de ser colocados na casa das eiras, a do meu avô, pois era essa a parte neura da família, com uma bisavó de significativo alcume bruxa má.
por contra, a minha avó glória contava de contino estórias da casa grande de portaris, casa perdida e de ausência lamentada.
eu e meus irmáns criamo-nos também com a cantilena de possuir um apelido raro, em perigo de extinçom: esse arines que eu des-deturpei em arins.

e foi aí que notei a falta duma casa. 

porque a minha outra avó, a mai da minha mai, nom tinha casa nomeada, e bem sabemos que quem nom tem nome, nom existe.
elena buscalavida foi lavandeira e tivo uma filha das silveiras, de arrimo. lavou panos, lenços e roupas alheias para manter essa menina que é minha avó. porém, o feito de ter sacado adiante uma filha sem ajudas e com um trabalho duro como o de lavandeira, em vez de ser motivo de orgulho era em realidade um tabu familiar. era um assunto que nom se falava nas sobremesas e sim em secreta rexouba. pouco mais sabe minha mai da sua avó e das suas circunstâncias vitais.

a minha bisavó é uma mais das muitas mulheres, que merecendo ser conhecidas, fôrom apagadas da história.  e tanto tem se essa história é a grande ou uma das pequenas, a história de um país ou duma família, a duma profissom ou a duma paróquia.

e foi para ela, para a sua memória e a de todas as outras mulheres sem nome, que eu escrevim este livro.

7 de dezembro de 2011

malitzim

um poema nascido da tradiçom mexicana:

a lenda da llorona,



e a figura da malinche, marina, malintzim.



a maliche foi uma mulher do século xiv que facilitou a conquista de tecnochtitlám por parte de hernão cortés. exerceu para ele de intérprete, nom só linguística, mas cultural; e também exerceu de embaixadora, facilitando as alianças do militar estremeiro com os líderes das povoações submetidas ao poder asteca.

da maliche chegou a nós mais que este papel político o seu rol como amante de cortés, amante traidora (é dizer, puta) em boa parte da história oficial mexicana. a malitxim nom era asteca, era náuatle e fora sequestrada e separada da sua família por esses a quem aparentemente atraiçoou.  

contam que cortés a abandonou e que nunca reconheceu como próprio o filho que tivo com ela. isto faz que a su figura se misture com a da llorona. desta outra mulher contam que afoga aos seus filhos no rio depois de ter sido abandonada polo amante.

e dizque arrasta a sua dor [a maliche, a llorona] aparecendo-se-lhe ás mulheres nas beiras dos rios, das lagoas, das praias, dás águas fontes de vida.

6 de dezembro de 2011

how to make an american quilt



a ideia nasceu deste filme, how to make an american quilt. há bem de anos que o visionei, e nom sei se a lembrança que guardo dele tem relaçom com a realidade. estas som as minhas memórias:

típico filme de sobremesa, estreios tv, sentimental, aquilo do que renegamos se queremos ser inteletuais. a típica estória da filha pródiga: menina que antes de tomar a decisom da sua vida (como sempre, casar ou nom casar, essa é a questom) volta á vila de origem a passar uns dias de descanso. 

na casa máter, as mulheres da sua família, tias, avós, amighas de neinice, dedicam as horas a construir para ela um wedding quilt: segundo a tradiçom familiar, antes de cada casamento, as mulheres juntam-se e trabalham, elaborando cada uma um bloco em que (e eis está a aportaçom do filme...) cada uma faz referência ao facto da sua vida que pode servir de aprendizagem para a vida futura da casadeira.

assim, o wedding quilt deixa de ser uma colcha de retalhos para passar a ser uma história das mulheres transmitida de mães a filhas. sempre que mantenham a tradiçom.

eu decidim fazer minha a tradiçom. e para as mulheres pessoas da minha família recolhim no meu livro-manta um manado de mulheres que fórom e que algo nos podem aprender ás mulheres pessoas que somos.

3 de dezembro de 2011

aquiltadas: o nome

Capa em Xerais de Herba Moura, de Teresa Moure
aquiltar: [ing. quilt] colocar a memória de pessoas
numa colcha de retalhos.

primeiro foi patchwork, e assim levam de título os três poemas geradores, aqueles que fam referência á arte de tricotar, gandujar e coser, todo junto e misturado. 
porém, algumhas das primeiras lectoras duvidaram do título: uma palavra inglesa... já está mui visto... olha o erva moura da moure, até o leva na capa... e comecei a dar-lhe voltas...

eu gostava de patchwork porque essa é tal qual a estrutura do poemário: um conjunto de retalhos de diferentes procedências (literatura de tradiçom oral, cinema, história, idade meia, literatura culta, antropologia, televisom, século xx...) entramados com diferentes técnicas para construir uma colcha, um livro. mas tinha na cabeça esses comentários.
do sintagma colcha de retalhos (a traduçom mais aproximada de patchwork) nom acabava de gostar, pois para mim os retalhos traiam consigo uma conotaçom de resto, sobrante ou desperdício que em absoluto se correspondia com o valor que eu lhe dava ao livro e as estórias que este recolhe.

assim que dei em inventar a palavra que dera título ao conxunto, que para algo sou poeta: como em realidade o livro brinca com o concepto do indo-americano wedding quilt, optei por brincar eu com essa palavra inglesa e galeguizá-la no neo-verbo aquiltar: colocar pessoas numa colcha de retalhos.

e assim nasceu aquiltadas, evocando também, para mim, uma outra palvra: o quilate, a capacidade de pór em valor a história das mulheres que eu coloco em cada poema. o objectivo deste livro.